As folhas caiam lentamente lá fora. Eu as acompanhava com
certa angústia, como se tivesse medo de não dar tempo. Existia uma pressa
dentro de mim que eu não entendia.
A campainha tocou ao fundo, meu corpo estremeceu de susto.
Corri até a porta. Estava ofegante.
Parei então, porque, na verdade, não esperava por ninguém.
Encostei o meu rosto contra a parede e respirei. Conseguia ouvir a respiração
do outro do lado. Eu sabia quem era. E ele sabia que eu estava ali. Fosse pela
sombra dos meus pés ou pelo esforço que fazia em ouvir a minha respiração.
Ele tocou a porta. Parecia tocar o meu rosto. Senti o sangue
subir pelo meu corpo inteiro até atingir as minhas bochechas. Estava quente.
Afastei-me da porta, fingindo não estar ali.
Ele tocou a campainha mais uma vez.
“Me deixa entrar”, disse.
Eu abri a boca para lhe dizer que fosse embora, que eu queria
ficar só. Mas alguma coisa me sufocava a voz. Tive a impressão que não era
capaz de dizer nada.
Ele bateu na porta. E eu me sentei ao lado dela.
Ele bateu mais algumas vezes.
Depois, tudo se aquietou. O silêncio mais alto que eu já
tinha ouvido.
O vento fez a janela bater. Olhei para fora novamente.
Percebi que muitas folhas tinham caído desde que eu parara de olhar. Senti um
buraco abrir-se dentro de mim. Eu não podia controlar. Eu não podia controlar
nada.
Corri até a janela e o vi caminhando para longe. Passos bem
lentos. Ele vestia um casaco marrom. Eu adorava aquele casaco.
Mais uma vez abri a boca para lhe gritar alguma coisa.
Qualquer coisa. Que voltasse, que se deitasse comigo sobre aquela amendoeira.
Mas não pude.
A janela bateu mais uma vez. Fechei-a, e fiquei parada em
frente a ela. Olhando através do vidro tudo o que acontecia lá fora. Tudo o que
acontecia sem o meu consentimento.
Não queria que ele tivesse ido embora. Ele tinha que ter
esmurrado a porta, forçado a maçaneta, gritado o meu nome. Por que não fez
isso?
Respirei fundo.
Quem sabe ele não volta.
E então vi as folhas amontoadas sobre o chão. Eram tantas.
Ano que vem cairiam de novo. Mais ou menos desse jeito. Mas talvez aquela
amendoeira nem esteja mais ali. Ou talvez eu não esteja.
Ele não ia mais voltar.
Fechei a cortina. O quarto escureceu.
Era melhor assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário