domingo, 3 de julho de 2011

Monólogo

-Você já se sentiu assim antes? É como se meus olhos estivessem diante desse grande pedaço de água que cobre o mundo, mesmo meus outros sentidos não conseguindo compreender. Mas o mar está bem longe agora, estamos a sós. Talvez a lua nos vigie lá fora, talvez a brisa venha nos dar um olá. Talvez. Mas como é possível esse sentimento que explode dentro de mim a cada segundo que fico aqui a contemplar a sua beleza? Sinto como se não coubesse em mim. Talvez não caiba. Felicidade é o nome dele. Nada mais que isso. Ah! Como é bom morrer de amor e continuar vivo, não é mesmo? Mas, espere! Aonde você esta agora? É inevitável tentar imaginar por onde anda sua bela alma nesse momento, pra onde levaram o nosso para sempre. Talvez faça sentido eu não estar mais aqui já que entreguei minha alma à sua há tanto tempo atrás. Mas como ainda me sinto tão vivo? Eu não quero morrer. Ah, se você estivesse aqui tudo seria tão mais fácil. Arrancaram-lhe de mim pedaços por pedaços. Mas você ainda esta aqui. Ainda dorme aqui dentro comigo todas as noites. Eu não queria, mas devo aceitar que não sou o seu dono. Você é, somente, uma grande parte do que sou. Então você esta aqui! Ah, eu sabia! Mas não vá embora, não me deixe. Eu não tenho seu corpo, mas tenho o sentimento que compartilhamos. Amor é o nome que dão a isso, não é? Então eu te amo! Amo com todas as forças que possuo dentro de mim. Mesmo você não podendo me ouvir, espero que compreenda. Sei que vai compreender se me olhares nesse momento. Fique aqui, comigo. Não deixe a minha felicidade ir embora. Não deixe que a tirem de mim.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Saudade

- Pensei muito em você ontem á noite.
- É mesmo?
- Dormi pensando em você.
- Sonhou comigo?
- Não sei, não lembro.
- Ah.
(Silêncio)
- Foi para isso que ligou?
- Não...
- Não? Então pra quê foi?
- Digo, sim.
- Foi ou não foi?
- Não sei bem.
- Escute, eu estou um pouco ocupada agora e...
- O que você faz num domingo a tarde para estar ocupada?
- As coisas mudam.
- Algumas não.
- Você não pode pensar que ainda controla a minha vida.
- Eu nunca tive essa pretensão.
- Esse assunto não vai acabar bem...
(pausa)
- Eu sinto a sua falta.
- Eu também.
- Está legal ai?
- Ando conhecendo caras legais.
- Eu também.
- Está saindo com homens agora?
- Você entendeu.
- Sonhou comigo, não foi?
- Juro que não lembro.
(Silêncio)
- A ligação vai ficar cara.
- Desde quando se importa com isso?
- Eu me importo com muitas coisas que você não faz ideia.
- Realmente não faço.
- Você é uma delas.
- Eu me importo com você também.
- Da mesma forma que antes?
- Por que você está fazendo isso?
- O que?
- Pensou ontem em mim e agora acha que as coisas vão voltar ao normal?
- Quando foi que elas foram normais?
- Não dá pra conversar com você! Boa noite!
- É dia aqui ainda.
- Está vendo? Eu tenho mais o que fazer.
- Boa... Sei lá. Tchau.
- Espere.
- O que é?
- Não deixa de pensar em mim às vezes...
- Não vou.
- Eu também.

terça-feira, 22 de março de 2011

Somente

“Nunca tivemos a intenção de nos magoar. Ou mesmo nos decepcionar com as palavras que dissemos um ao outro. Palavras que eram repetidas quase que diariamente, quase como uma rotina.”

Eu apenas pensei isto. Apenas.
Permaneci com essa frase em meus pensamentos durante todos os momentos.
“Não agüento mais” ele dizia. Repetia.
“Vou embora daqui. Preciso me curar de você!”
Já soava natural. Frases tão cruéis não eram mais tão dolorosas. Ao menos, aos olhos dele, eu não fazia com que fossem. Na verdade, eu apenas não fazia nada para prender seus olhos em mim.
Algumas lágrimas secas ainda escorriam pela minha face.
O tempo passou muito depressa. A pressa levou consigo os carinhos e as atenções, que sustentam – e não somente na teoria, – qualquer relacionamento. E não é que eu tenha duvidado disso. Não. Eu apenas não fiz questão. Nós não fizemos.
O engraçado, não hilário, mas curioso, é que agora quando tudo finalmente se acabou, eu não me sinto como deveria. Não estou aliviada ou satisfeita, nem sequer estou sorrindo. Não me sinto melhor. Sinto-me ainda pior do que costumava. Sinto falta do que tínhamos. Do que éramos.
Eu poderia dizer que sinto falta de todas as coisas que nunca fomos. Das coisas que sempre fingíamos ser porque nunca gostamos do que realmente éramos. Poderia. Mas não sinto, mesmo.
Pela primeira vez na vida eu sinto falta de uma realidade própria. Sinto falta de todo o sofrimento, porque quando conseguíamos superá-los era como se queimassem fogos no céu. Uma sensação de êxtase percorria todo o meu corpo, e subia devagarzinho começando pelas minhas pernas até terminar em meus olhos.
Eu apenas sinto falta. Apenas.
Nunca tivemos a intenção de reviver o que passou. Já virou passado. Já se eternizou.
Olhei para o lado de fora da janela. Espremi meus olhos para que pudessem viajar até onde ainda conseguiam ver sem precisar inventar. Mesmo embaçada, era maravilhosa! Ainda mais maravilhosa que a imagem formada pela minha mente sempre que tenta ir mais além do que os meus olhos podem ver.
Era simples, talvez até chato. Mas era real.

domingo, 20 de março de 2011

Importante

- Peguei seu recado na caixa postal.
- Eu te liguei? Quando?
- Hoje mais cedo.
- Engraçado, não lembro.
- Parecia importante.
- E você só me retorna agora?
- Então era importante? Desculpe, só consegui chegar agora.
- Ah...
- Então?
- Então o que?
- O que era?
- Já disse que não lembro.
- Então tanto fazia a hora em que eu iria retornar.
- Claro que não. Se tivesse ligado ligado antes, eu teria lembrado.
- Como você sabe?
- Porque era importante.
- Então você sabe o que é!
- Já disse que não.
- Então como você sabe que era importante?
- Ué, você quem falou. A memória ta fraca hein?
- Eu disse que pareceu! Além do mais, você nunca deixa recado na caixa postal.
- E daí?
- E daí que devia ser algo urgente.
- É, talvez.
- E você não lembra!
- Às vezes não era nada não.
- Como não?
- Devia ta querendo bater um papo.
- Com a minha secretária?
- Não, com você.
- Você poderia ter esperado se era só isso.
- Claro que não.
- Por que?
- Por que agora eu esqueci.
- Então pronto, se esqueceu é porque não tinha importância.
- Como você tem tanta certeza?
- Se você esqueceu...
- O que isso tem a ver?
- Se fosse tão urgente, você ainda faria questão de me dizer.
- Mas eu faço, só não lembro.
- Você não entendeu...
- E por que você fica falando “urgente” e “importante” como se tivesse o mesmo significado?
- Que?
- Você fala como se o que eu tivesse para te falar fosse urgente e importante ao mesmo tempo.
- Aonde você quer chegar?
- O que eu tinha pra te falar era importante, mas não urgente.
- Ah!
- O que?
- Você quer discutir gramática agora?
- Não é discutir, to explicando só.
- Po, obrigado!
- Enfim, como eu estava dizendo, não era urgente.
- É, já entendi.
- O que pode ser?
- Não sei, pensa aí e depois me liga. Tenta me dar um dica da proxima vez que você deixar um recado na caixa postal.
- Espera, eu ainda não disse o que era.
- Já falei que não devia ser nada demais...
- Por que você ta cismando com isso?
- Ninguem esquece um assunto importante!
- Ué, eu esqueci. Mas continua sendo importante.
- Eu desisto!
- Desiste do que? Eu nem falei ainda...
- E nem vai! Cansei de falar.
- Mas você quem ligou.
- Liguei porque você fez isso mais cedo.
- É, fiz. Tinha algo importante pra te falar.
- Tô vendo.
- Ah!
- Lembrou?
- Não, mas você viu o jogo ontem?
- Não.
- Perdeu, foi um jogão.
- Trabalhei até tarde ontem.
- Pra melhorar o Fluminense ainda perdeu hoje.
- Eu ouvi no rádio.
- Devia ter assistido a esse também.
- Vou jantar.
- Te ligo mais tarde.
- Boa noite.
- Boa noite.