A gente desabrocha ao contrário.
Enquanto o meu corpo se abre, lento e
temoroso, revelando aos poucos que poderia ser ainda perfeito caso o mundo
também o fosse, os seus movimentos possuem coragem, não tem medo de exaltar uma
beleza extrema, absoluta. Não tem medo de se abrir, nem a necessidade de
esconder nada, simplesmente porque não lhe caberia esse direito já que tantas
coisas belas cabem dentro de si.
Aos poucos, porém, revela-se ainda
humano, deixando escapar seus defeitos e linhas invertidas, mas sem deixar de
exalar o mesmo perfume. As suas imperfeições o acompanham na extremidade da
beleza que consegue alcançar, como se fizesse parte de um mundo paralelo.
Se permitirem, nossos ciclos irão se
esbarrar no meio do caminho. Se completar até, quem sabe. Mas eu já não sei
mais em que etapa estamos. Não consigo compreender se concluímos um longo
percurso, ou se mal conseguimos sair do lugar. Além disso, o vento pode
carrega-lo para longe daqui, outras rosas poderão surgir, mais semelhantes com
aquilo que somos, ou com aquilo que julgamos mais fácil parecer.
Ainda assim, eu insistiria em chama-lo
de meu. De amor, de complemento. É difícil acreditar na inexistência de uma
compatibilidade entre nós quando tudo parecia se encaixar de forma tão
simétrica. Pois se assim for realmente, nada temos então. Apenas nossos sonhos nos
restam, agora atirados ao chão.
Mas com você irei ainda viver, ao menos
enquanto a imensidão da noite me permitir crescer tudo ainda o que julgo ter
direito. Quero que o tempo passe depressa, que voe bem alto, mas que não nos
leve para caminhos distintos. Se assim for, que nos reencontremos então, no
momento exato em que eu tiver coragem suficiente para desabrochar na sua
frente. Mas o tempo é grande, e é capaz de carregar muitas outras coisas. Não
se pode prever as suas escolhas.
Por isso, pensando bem, é melhor que
permaneçamos aqui, onde paramos. Não temos nada aparentemente, mas talvez,
tenhamos tudo, não sei. Talvez a certeza de qualquer dúvida possa ser revelada
somente com o tempo, nada mais. Mas se eu o apressá-lo, perderei os motivos que
a vida há de encontrar para fazer com que eu mesma busque por um caminho mais fácil
que você. Mas se pertencermos realmente à um mesmo ciclo, então nem o tempo,
por maior que seja, poderá impedir-nos de realizar aquilo que tanto desejamos
um dia.
E o capicua da postagem foi proposital?
ResponderExcluirNada é por acaso.
Parabéns pelo blog e pelo talento.zz
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