Guardaríamos um sonho bom para mais tarde – esse era o
plano.
Cultivaríamos o que quiséssemos. E assim a colheita seria
deliciosa.
Mas não dá pra controlar o regime das chuvas. Logo mais tudo
aqui em volta estará alagado. E não restará mais nada. Nada do que somos
restará ainda que como pó. O pó ficará até o momento em que a correnteza de ar
atravessar os nossos corpos fazendo toda a poeria voar. O pó que restar vai ficar intrometido no meio
dos moveis e embaixo dos tapetes. Fora isso, nada. E eu nunca gostei daquele
tapete.
Mas por que então chorar o fim? Por que adiá-lo como se o temêssemos?
Você olhará para mim como se não me reconhecesse.
E eu farei o mesmo.
Bateremos as portas.
E um dia talvez nos esbarremos na rua e os nossos olhos nos
traiam. Ou talvez não. Talvez eles fujam e a gente fingirá que não se conhece.
Ou se conheceu.
Lembraremos então, um do outro. Você vai olhar pra trás, mas
não vai me achar. Tudo bem, não teríamos nada pra falar. É melhor assim.
Tudo também o René bonito e triste.
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