Sinto falta do barulho que ele fazia para cortar as cebolas. O excesso de manteiga que passava no pão. As doses exatas de açúcar que colocava no meu café.
Voltávamos pra cama e espalhávamos pelos lençóis o excesso de amor que talvez não coubesse em nenhum outro lugar. O café esfriava.
Sinto falta de ver a sombra do seu pé se aproximando por debaixo da porta. Os seus sapatos. A maneira como os organizava. E desorganizava suas camisas. A escova de dente que dividíamos às vezes. As colheres. Os garfos. Não. Os garfos não. Os garfos eram terríveis. Você tentava quebra-los sempre que comia com eles. Os dentes batiam com força no metal e faziam um barulho alto demais. Eu me levanta da mesa, todas às vezes. Você vinha atrás de mim. Vinha com o restante de comida na boca. E o som se repetia à medida que tentava falar. Brigávamos.
As portas se batiam.
Você dormia no sofá.
Eu dormia na metade do colchão.